domingo, 16 de janeiro de 2011

Os perigos do fumo passivo


Os malefícios do cigarro não se restringem a afetar apenas a saúde dos fumantes. Segundo Irma de Godoy, presidente da Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumolo-gia e Tisiologia (SBPT), as pessoas que os rodeiam são afetadas da mesma forma. Apenas o que muda é a intensidade da exposição aos agentes nocivos.

“A fumaça que sai diretamente da brasa do cigarro apresenta maior concentração dos diferentes componentes tóxicos do que a fumaça que o próprio fumante inala, fazendo com que as pessoas ao redor inalem grande quantidade de toxinas”, explica. O risco de desenvolver câncer de pulmão é 30% mais elevado naqueles que convivem com fumantes comparados aos que vivem longe da fumaça do cigarro alheio. Em relação à morbidade e mortalidade por doença coronariana entre homens e mulheres, aumenta-se o risco em 25% a 35%.

Uma série de outros problemas também é acarretada. “Há evidências suficientes de relação causa-efeito entre tabagismo passivo e ir-ritação nasal, desencadeamento de asma, assim como a piora do controle dela e desenvolvimento de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), entre outras”, afirma a médica. “Além disso, o fumo passivo também é bastante associado ao déficit cognitivo em adultos”.

Já em bebês, os agravos chegam a ser fatais. O fumo durante a gestação causa morte súbita infantil, que é o óbito inexplicável e inesperado de crianças no primeiro ano de vida. O risco também existe entre crianças expostas à fumaça de cigarro após o nascimento. Adicionalmente, filhos de pais que fumam em casa têm um risco maior de desenvolver infecções do trato respiratório inferior, otite média aguda recorrente ou crônica, tosse, expectoração, chiado e falta de ar e ainda exacerbação de asma mais grave e frequente, principalmente quando em idade escolar.
Alguns países já proíbem o cigarro em locais abertos, como parques, e até mesmo dentro de carros particulares, neste caso para proteger especialmente as crianças. No Brasil, alguns estados já vetam o fumo em lugares fechados, mas a modificação da Lei Federal n°9.294, que aborda o tema, precisa ser aprovada para que a proibição ocorra em todo o país.

Para a doutora Irma, essa lei é fundamental para o controle de doenças que têm o tabagismo como fator de risco. “Infelizmente, nem todos os efeitos da cessação do tabaco ou da exposição passiva são imediatos”, explica. “Em alguns casos, demora-se anos para que o indivíduo exposto tenha o risco de desenvolver doenças relacionadas ao tabaco similar ao dos indivíduos não expostos. É por isso que medidas de restrição ao fumo são urgentes para diminuir os riscos no futuro”.

Melhoras nos índices de pre-valência e mortalidade de doenças esperam ser vistas caso o fumo seja realmente vetado. Em casos como o de doenças cardíacas, após um ano sem o tabaco, já pode ser notada uma diminuição consistente nos números de ocorrências. Em outros quadros, como nos de câncer de pulmão, os benefícios demoram mais para aparecer.

Enquanto o cigarro for legal, na opinião da especialista, outras medidas podem ser tomadas, como aumentar o preço do produto, proibir fumos com apelos específicos pa-ra determinadas populações, como mulheres e crianças (cigarros com sabores, por exemplo) e um maior investimento em campanhas que previnam a iniciação do tabagismo.

“Acredito também na ampliação dos centros de tratamento como me-dida fundamental para a diminuição do número de fumantes e, conse-quentemente, para uma menor exposição de fumo passivo”, diz a médica.

Maconha prejudica mesmo usuários leves

Lembrar de informações simples do dia a dia, além de realizar atividades que demandem planejamento e gerenciamento para sua execução, pode ser um processo complexo para usuários de maconha. Mais ainda se o uso da droga for crônico e antes dos 15 anos de idade, indicando um efeito tóxico e acumulativo da substância no desempenho cerebral ainda em desenvolvimento, principalmente no que se refere à memória.

A conclusão é de um estudo realizado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que aponta os prejuízos gerados pela substância nas chamadas “funções executivas” do cérebro. São elas que nos possibilitam planejar e monitorar a execução de uma equação matemática, por exemplo, até que se chegue ao resultado final. “A função executiva nos permite processar e organizar todas as novas informações que nos são passadas diariamente e que necessitam de planejamento, iniciação, memória operacional, atenção sustentada, inibição dos impulsos, fluência verbal e pensamento abstrato”, explica a neuropsicóloga Maria Alice Fontes, autora da pesquisa que foi apresentada como tese de doutorado pelo LiNC (Laboratório de Neurociências Clínicas) da instituição.

Acioly Tavares de Lacerda, professor do Departamento de Psiquiatria e orientador da pesquisa, explica que esse é o estudo com a maior amostra no mundo de usuários crônicos avaliados por meio de testes neuropsicológicos e o primeiro que mostra que os déficits cognitivos pelo uso leve (cerca de dois cigarros por dia), porém crônico, da maconha parecem ser muito expressivos em desencadear disfunções no cérebro humano. “Quando mais precoce e maior a exposição à droga, pior também será a memória, mesmo depois de um período de abstinência”, afirma. No estudo, Maria Alice verificou que os déficits no armazena-mento de informações e evocação da memória nesses usuários persistiram após um tempo médio de 14 dias de abstinência. A pesquisa avaliou preliminarmente 173 usuários crônicos de maconha e selecionou subamostras com 104 indivíduos para o estudo sobre funcionamento executivo – sendo 49 usuários de início precoce e 55 de início tardio –, 34 usuários crônicos abstinentes há mais de sete dias e 55 controles não usuários. A idade dos participantes variou entre 18 e 55 anos.

De acordo com Maria Alice, é fundamental a avaliação de eventuais déficits neuropsicológicos em usuários crônicos da droga para prevenir futuros danos, além de direcionar e favorecer a aderência do tratamento dos dependentes químicos, já que esses déficits cognitivos também fazem com que o paciente tenha mais recaídas e desista do tratamento.

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